quinta-feira, 23 de maio de 2013

Umbilical

O que consigo escutar
é você tentando
iludir-me com palavras
de amor e maturidade

Eu devo considerar
o passado e tudo aquilo 
vivido com outros
que não você

Não é fácil apagar
e esquecer o elo
que me amarra na cama
e chora seu nome

Então não sussurre mais
o passado ficou pra trás
hoje corto este cordão
abro os olhos pela primeira vez

E podemos perceber que é para sempre, Mãe.

A Casa e Ela

O sofá preto
não é mais o mesmo
e eu também não
os cantos das paredes
ainda sussurram o nome
parece estar sempre atrás
da minha nuca
fazendo um cafuné
com segundas intenções
é perturbador
como se cada trinco 
da mesa da cozinha
soubesse fotograficamente
dos seus contornos
e que falta me fazem eles
todas as manhãs
ver você nua, branca
na cama sorrindo
pedindo café
ou mais sexo
dependia da vontade
do tesão
eu peço desculpas
as vezes não pareço estar aqui
com você, mas ela...
os móveis são dela
da outra e não meus
apenas os levo comigo
e não sou só eu
é esta casa
aquele retrato
guardado na ultima gaveta
do armário
não somos nós
acabou...
ela vive em mim e eu nela
e só.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Nando, meu bem

Pra você me notar
o que preciso fazer
devo me atirar
de uma ponte ou do nono andar

Pra você me notar
pode até gostar
de saber
essa música é para você

Quem sabe note
comi todo biscoito do pacote
era seu favorito
só pra saber se te irrito
fui à repartição
com uma blusa decotada
beijei o seu patrão
te contei cê não fez nada
e agora?
Estava mesmo na hora
da festinha da Isabela
eu que soprei a vela!
e sua sobrinha chorou


Era Pra você me notar
mas o que preciso fazer
devo me atirar
de uma ponte ou do nono andar

Pra você me notar
pode até gostar
de saber
essa merda é pra você

Durante o jantar
mudei de canal
pois roubei o lugar
do William Bonner no jornal
E agora?
pensei bem e fui embora
antes seu carro risquei
só por sarro, eu sei
o que queria?


Que você me notasse
mas o que posso fazer
devo te atirar
de uma ponte ou do nono andar

Pra você me notar
pode até gostar
de saber
só quero terminar com você!

*Inspirado em Clarice Falcão

terça-feira, 21 de maio de 2013

Banho Turco

Escutei versos úmidos
de tanto bafo tive medo
tua boca tão próxima
desabafou todo sentimento

Pronunciou palavras molhadas
que pingavam entre curvas
contornavam a minha cabeça
perdida em sonhos transtornados

Senti tudo tão suado
em um calor sufocante
os poros dilatavam
aí soube que estava dentro de ti

Coimbra e seu autor

A cidade do amor,
em Portugal, é também do rancor,

de saudade e dor.

Tem um inverno sem cor
no verão um calor,
ficar no sol dá um ardor que só.

Na Queima é um horror,
pouco espaço pra muito doutor,
é um trabalho encher os carros de flor.

Coitado do condutor,
parece que está a fazer um favor,
sem que tivesse recebido o valor.

A propina é outro fator,
tão alta que causa mau humor,
no final do curso só há devedor.

Mas antes é melhor recompor,
a serenata na Sé Velha é um fervor,
aliás, aqui é fadista não é cantor.

Um estudante por mais sonhador,
não sabe nem quem é seu coordenador,
e na correção dos exames reclama o rigor.

Na equipa da Académica falta jogador,
diretor, gestor, treinador, patrocinador,
locutor, torcedor...é um terror.

E de repente "desculpa, senhor.
Tens cigarro, por favor?"
Parece que todo mundo é fumador.

Não quero parecer aborrecedor,
por ser tão falador,
mas eu sou morador.

Por isso tive a ideia de expor,
mesmo não sendo escritor.
Coimbra, descobri que todo esse ódio é amor.

Correspondência


Cidade de Coimbra,  Portugal.
Cidade onde vivo até hoje. É o que muitos pensam sem nada saber. Por isso, escrevo. Contarei a muitos que por aqui passaram e pensam que viveram, se calhar até viveram mais que eu… Porém, não viveram o que sobrevivi.

A estória de todos aventureiros já é de vosso conhecimento. Tendo isto em conta, por estes caminhos não singrei, tão-somente. Escrevo também de amizades, encontros, laços e de tudo o mesmo, sem o mesmo ser.

Pois, o meu sonho começou com eles, mas já vos adianto que sem eles continua, como já deves perceber. Aproveito também, para vos informar que este texto que escrevo é um bocado mais comprido que os demais acerca do mesmo sítio, devido a representação de outros espaços no tempo.

Ah, o tempo! Famoso por significar e marcar tanto! Ainda o procuro erroneamente em pessoas e lugares…viagens e bares! É este “precioso” que me passou desapercebido e que ainda hei-de acostumar-me.

A agonia que trago comigo diariamente é diferente. Sentida, talvez, por um mero actor coadjuvante de uma peça em cartaz no Teatro Académico Gil Vicente. Actor, este que encontra-se desamparado na Praça da República, sem ter o que fazer ao final de uma turnê, em que Deus, director e autor, não mais escreve peças para os mesmos personagens e no mesmo teatro.

Os outros actores e actrizes, pegam em suas cenas e por cantos distintos recordam-se das falas ensaiadas e personagens vividos. É triste. Sou o único actor que ainda vive o personagem, mas sem a peça. O cenário envelhece e as pessoas passam sem saber deste personagem que sou, muito menos da peça que estivera em cartaz.

Meus colegas de palco não mais existem de facto, apenas de lembranças. Desapercebido, como disse há pouco, o tempo passa e novas companhias ocupam-se dos palcos. Tudo repete-se incansavelmente. Um actor cascudo, hoje ainda está coberto por sentimentos de outrora, quando ainda era um mero coadjuvante em um companhia recém-formada.

Uns dias são mais difíceis, outros nem tanto. Como tudo na vida, acomodamo-nos. Confesso que pelas ruas já saí, nomes já chamei e daquela época resta-me a memória. A cicatriz ainda não recuperou-se.

Todas as manhãs a ferida abre-se ao ir a Universidade, ao passar pela mesma rua que passamos e cantamos, como a primeira vez em que por cá estivemos com a malta. Ainda bem que de figurino mudei-me. Caloiro não mais sou. Doutor de Coimbra, por favor!

Capa e batina que vive traçada ao negro, mesmo para ninguém aperceber-se das lagrimas que por ela escondem-se. Sim, negro como o luto, que ao bater da Velha Cabra e o Fado de Coimbra homenageiam meus tempos de glória.

Momento tão especial que vê a angularidade em sua perfeita sincronia. Este Doutor que vos escreve, meus caros, já está a aperceber-se de que, por não mais viver, e sim sobreviver, afirma que a vida por além-mar não é minha.

A encenação esplendida é formada por diversas figuras, cada uma com seu papel mais que fundamental. Por isso, Coimbra não é minha. Coimbra é nossa e sempre será! É nossa e de tantos outros que já, mesmo que de passagem, encantaram de amor esta cidade.

Obrigado ao director e autor por esta oportunidade. E muito mais tenho a agradecer aqueles que fizeram desta oportunidade concedida a mais bem aproveitada até então em minha vida.

Amo-vos como Pedro amou Inês…E farei, com que todos que por nosso reino passarem, reverenciem a nossa estória. E ainda vos digo, amigos, que nos encontraremos novamente para olharmo-nos aos olhos, como um sonho “Real”.

PS.: Mandem notícias!!!
Sé Velha-Coimbra, 16 de maio de 2012.

Fábula

Não sei se falo de mim, dos outros, dos outros “eus” dento de mim. Não sei e nunca saberei, pois isso sou eu e nem de mim sei. Se você não entendeu, eu também não.

Os Nobres do Salão


E mesmo assim, deixei escapar um sorriso e você, como em uma resposta incondicionada, também. Transformamos o silêncio barulhento dos outros em uma grande tímida gargalhada a dois...