Cidade de Coimbra, Portugal.
Cidade onde vivo até hoje. É o que muitos pensam sem nada
saber. Por isso, escrevo. Contarei a muitos que por aqui passaram e pensam que
viveram, se calhar até viveram mais que eu… Porém, não viveram o que sobrevivi.
A estória de todos aventureiros já é de vosso conhecimento. Tendo isto em
conta, por estes caminhos não singrei, tão-somente. Escrevo também de amizades,
encontros, laços e de tudo o mesmo, sem o mesmo ser.
Pois, o meu sonho começou com eles, mas já vos adianto que
sem eles continua, como já deves perceber. Aproveito também, para vos informar
que este texto que escrevo é um bocado mais comprido que os demais acerca do
mesmo sítio, devido a representação de outros espaços no tempo.
Ah, o tempo! Famoso por significar e marcar tanto! Ainda o
procuro erroneamente em pessoas e lugares…viagens e bares! É este “precioso”
que me passou desapercebido e que ainda hei-de acostumar-me.
A agonia que trago comigo diariamente é diferente. Sentida,
talvez, por um mero actor coadjuvante de uma peça em cartaz no Teatro Académico
Gil Vicente. Actor, este que encontra-se desamparado na Praça da República, sem
ter o que fazer ao final de uma turnê, em que Deus, director e autor, não mais
escreve peças para os mesmos personagens e no mesmo teatro.
Os outros actores e actrizes, pegam em suas cenas e por
cantos distintos recordam-se das falas ensaiadas e personagens vividos. É
triste. Sou o único actor que ainda vive o personagem, mas sem a peça. O
cenário envelhece e as pessoas passam sem saber deste personagem que sou, muito
menos da peça que estivera em cartaz.
Meus colegas de palco não mais existem de facto, apenas de
lembranças. Desapercebido, como disse há pouco, o tempo passa e novas
companhias ocupam-se dos palcos. Tudo repete-se incansavelmente. Um actor
cascudo, hoje ainda está coberto por sentimentos de outrora, quando ainda era
um mero coadjuvante em um companhia recém-formada.
Uns dias são mais difíceis, outros nem tanto. Como tudo na
vida, acomodamo-nos. Confesso que pelas ruas já saí, nomes já chamei e daquela
época resta-me a memória. A cicatriz ainda não recuperou-se.
Todas as manhãs a ferida abre-se ao ir a Universidade, ao
passar pela mesma rua que passamos e cantamos, como a primeira vez em que por
cá estivemos com a malta. Ainda bem que de figurino mudei-me. Caloiro não mais
sou. Doutor de Coimbra, por favor!
Capa e batina que vive traçada ao negro, mesmo para ninguém
aperceber-se das lagrimas que por ela escondem-se. Sim, negro como o luto, que
ao bater da Velha Cabra e o Fado de Coimbra homenageiam meus tempos de glória.
Momento tão especial que vê a angularidade em sua perfeita
sincronia. Este Doutor que vos escreve, meus caros, já está a aperceber-se de
que, por não mais viver, e sim sobreviver, afirma que a vida por além-mar não é
minha.
A encenação esplendida é formada por diversas figuras, cada
uma com seu papel mais que fundamental. Por isso, Coimbra não é minha. Coimbra
é nossa e sempre será! É nossa e de tantos outros que já, mesmo que de
passagem, encantaram de amor esta cidade.
Obrigado ao director e autor por esta oportunidade. E muito
mais tenho a agradecer aqueles que fizeram desta oportunidade concedida a mais
bem aproveitada até então em minha vida.
Amo-vos como Pedro amou Inês…E farei, com que todos que por
nosso reino passarem, reverenciem a nossa estória. E ainda vos digo, amigos,
que nos encontraremos novamente para olharmo-nos aos olhos, como um sonho
“Real”.
PS.: Mandem notícias!!!
Sé Velha-Coimbra, 16 de maio de 2012.
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